Poesia para a Barra I

Soldados

As tropas se enfileiram com suas almas de carne e armaduras de metal de todas as matizes.

Suas marchas são conhecidas e ditam o ritmo respeitoso do caminhar desses exércitos mecanizados que consomem suco cor de sombra expirando fumo nas trincheiras pintadas à mão.

Lhes faltam braços para abraçar, suas pernas borrachudas e adiposas caminham lentamente tocando no solo gris seus muitos dedos sujos e lamaçentos.

Seus olhares à noite cegam e de dia amedrontam as almas sem elmo que caminham a mercê desses soldados de lata.

Todos os dias ingleses, chineses, japoneses, alemães, coreanos, franceses e tantas nações se enfileiram para invadir as Américas. Eles carregam os espíritos cansados à ocupar seus casulos equipados de luz e tormenta.

Leonardo Viana

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Série em Nanquin e Acrílico com a Cidade de San Francisco

Página da do bem sai no http://www.nuncmix.com

Página da do bem

Ilustração

Para mostrar os produtos da empresa Design 3 manequins fiz algo que unisse uma ilustração meio Nova York/ meio Rio de Janeiro. O resultado ficou assim:

 

SEO Fabric Manequins

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Fish’n Rio

Poesia de Augusto dos Anjos

Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos …
 
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

Gullar 80 anos, adorei esse primeiro poema.

Meu pai

meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem

quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro

De Muitas Vozes (1999)

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

De Na Vertigem do Dia (1975-1980)